quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Foi-se um amigo ficou a saudade

Foto de Jan Buys (Esquerda José Nascimento, direita Jan Piet Bekker)

“A lua eleva-se no horizonte gelado da Serra do Alvão. Um lobo aponta o focinho ao astro. E outro. E mais outro... A alcateia inteira uiva incessantemente, anunciando a despedida daquele que, durante anos e anos, foi seu companheiro e acérrimo defensor. Num dia solarengo centenas de insectos povoam os prados de montanha que ladeiam os rios e ribeiros serranos. Entre eles, o mais importante é um bicho pequeno, frágil, de um inigualável azul eléctrico, quatro asas oferecidas ao vento que passa, tromba metida no néctar das Ericas: é a Maculinea alcon, a borboleta mais ameaçada de Portugal. No próximo Verão estes bichos irão procurar-te avidamente por entre milhares de flores, linhas de água puríssima e rochas aquecidas pelo sol escaldante. No lugar onde te encontrares velarás pelos teus queridos lobos, pelas espécies em perigo e pela tua saudosa família e amigos” (Ernertino Maravalhas).


Não podia deixar de passar esta data sem homenagear a pessoa que me ensinou a olhar a natureza da maneira com a vejo.

Obrigado Zé


Paulo Barros


domingo, 15 de novembro de 2009

As gralhas do Douro


A distribuição da gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax) em Portugal é bastante fragmentada e resume-se basicamente a 6 núcleos populacionais mais ou menos estáveis, Sagres, Serra de Aires, Serra da Estrela, Douro Internacional/Superior, Alvão/Barroso e Gêres, havendo ainda observações pontuais em outros locais como na Serra da Cabreira, Mértola ou na Zambujeira do Mar.

Provavelmente um dos maiores núcleos, espacial e numericamente será o do Douro Internacional/Superior, contudo a informação sobre desta espécie nesta zona é bastante pontual e dispersa. Do nosso conhecimento e das informações que nos tem chegado foi possível confirmar 16 das 38 quadrículas (5X5 km) de possível ocorrência, além das observações feita no Douro Interncional/Superior, foi ainda confirmada a presença desta espécie no Sítio de Importância Comunitária (SIC) Rio Sabor e Maçãs.

Aproveito este post para deixar uma palavra de agradecimento, a todos aqueles que nos tem ajudado através do envio de observações realizadas de Norte a Sul de Portugal, a todo muito obrigado.


sábado, 24 de outubro de 2009

Tipo e local de alimentação na época de reprodução

Na Europa, a maior parte dos estudos feitos sobre a caracterização dos habitats utilizados pelas Gralhas-de-bico-vermelho para se alimentarem, demonstram que as zonas de pastagens assim como certos habitats naturais, como por exemplo arrelvados (litorais e/ou de montanha) ou os sistemas dunares, são de elevada importância.

A utilização das zonas de alimentação por parte desta espécie, resulta basicamente de uma selecção em função da estrutura da vegetação, onde a altura da vegetação pode interferir com a técnica de caça e das espécies presas presentes.

Para quantificar a importância do habitat de alimentação, nomeadamente em períodos cruciais como é o da reprodução, um estudo realizado na ilha de Ouessant entre 1998 e 2003, revelou que nos períodos de reprodução as Gralhas-de-bico-vermelho preferem zonas onde a vegetação não ultrapassa os 5 cm de altura, visto que 88% das observações foram feitas neste tipo de vegetação, muito embora este, represente apenas 8% da ocupação do solo, o que demonstra a importância deste tipo de habitat para esta espécie.

Durante a época de reprodução, afastar-se do local de nidificação para se alimentar implica custos em termos energéticos e de tempo, os quais podem ser preponderantes para a taxa de sobrevivência da sua prole, visto que quanto mais longos são os trajectos, mais tempo é gasto nos deslocamentos, tempo que é amputado ao tempo efectivo de alimentação. Da mesma forma, quanto maior for o percurso entre o local de alimentação e o de nidificação, maior será a probabilidade de atravessarem territórios e serem atacados por congéneres, embora as gralhas sejam sociais durante todo o ano, tornam-se agressivas no período de reprodução e especialmente entre aves reprodutoras. Também a taxa de predação de crias aumenta em função de maiores distâncias entre o local de nidificação e o local de alimentação, visto existir uma menor eficácia na vigilância do ninho. Assim a distância entre os ninhos e as zonas de alimentação são um compromisso entre custos (tempo, energéticos e predação) e ganhos (recursos alimentares), de acordo com os estudos realizados a maioria dos casais reprodutores utilizam áreas de alimentação entre os 200 metros e 3 km de distância.

Distância dos principais locais de alimentação (0,5 e 2,2 km) na época de reprodução de um dos ninhos monitorizados pela equipa.


Bibliografia consultada:

Bignal, E.M., McCraken, D.I, Stillman, R.A & Ovenden, G.N. 1996. Feeding behavior of nestling choughs in the Scottish Hebrides. Journal Field Ornithol. 67: 25–43.

Blanco, G., Tella, J.L. & Torre, I. 1998. Traditional farming and key foraging habitats for chough Pyrrhocorax pyrrhocorax conservation in a Spanish pseudo steppe landscape. Journal of Applied Ecology 35: 232-239.

Faringha, J.C. 1991. Medidas urgentes para a conservaçào da Gralda de bico vermelho Pyrrhocorax pyrrhocorax em Portugal . Estudos de biologia e conservaçao da Natureza. 2. SNPRCN, Lisboa.

McCanch, N. 2000. The relationship between Red-Billed Chough Pyrrhocorax pyrrhocorax (L) breeding populations and grazing pressure on the Calf of Man. Bird Study 47: 295–303.

Whithead, S., Johnstone, I. and Wilson, J.D. 2005. Choughs Pyrrhocorax pyrrhocorax breeding in Wales select foraging habitat at different spatial scales. Bird Study, 52,193-203.

Kerbiriou, K. 2006. Impact des changements d'usage sur la viabilité d'une population menacée dans un espace multi-protégé : le Crave à bec rouge (Pyrrhocorax pyrrhocorax)

sur l'île d'Ouessant.


segunda-feira, 15 de junho de 2009

“Nostras hermanas”

Aproveitando os feriados da semana passada, decidimos ir até Espanha juntar-nos a uns amigos (Rober e Fran) que se encontram a elaborar o Atlas de Quirópteros do Parque Natural das Fragas do Eume, depois ter termos capturado algumas exemplares, os 3 emissores de rádio tracking disponíveis foram colocados em três espécies diferentes (Plecotus auritus, Myotis mystacinus e Myotis daubentonii).Durante o dia percorremos os vales e as serras do Sudeste do Parque, na tentativa de descobrir as colónias de criação destas espécies visto que todos os indivíduos marcados eram fêmeas e estavam prenhes, durante a noite o tracking teve como objectivo a identificação dos locais utilizados por estes indivíduos.
Como estávamos na Galiza, não deixámos passar a oportunidade de ir dar uma espreitadela as “nostras hermanas” Gralhas-de-bico-vermelho, deste modo rumamos até à praia de Laxe (Província da Corunha), na qual observamos uma Pyrrhocorax, daqui fomos em direcção à lagoa de Traba, onde deparámos com uma serie de gralhas que voavam junto à costa, num vaivém constante.Na tentativa de perceber o que se passava, fomos a pé costa fora até a um local de falésias onde avistámos com um casal e uma cria (com coloração de bico amarelo e patas rosáceas) de Pyrrhocorax pyrrhocorax, que se encontrava junto ao seu local de criação, uma gruta natural, resultado da erosão das águas do mar Atlântico.
Fotos de Paulo Travassos, Paulo Barros, João Gaiola e Hélia Gonçalves