segunda-feira, 15 de junho de 2009

“Nostras hermanas”

Aproveitando os feriados da semana passada, decidimos ir até Espanha juntar-nos a uns amigos (Rober e Fran) que se encontram a elaborar o Atlas de Quirópteros do Parque Natural das Fragas do Eume, depois ter termos capturado algumas exemplares, os 3 emissores de rádio tracking disponíveis foram colocados em três espécies diferentes (Plecotus auritus, Myotis mystacinus e Myotis daubentonii).Durante o dia percorremos os vales e as serras do Sudeste do Parque, na tentativa de descobrir as colónias de criação destas espécies visto que todos os indivíduos marcados eram fêmeas e estavam prenhes, durante a noite o tracking teve como objectivo a identificação dos locais utilizados por estes indivíduos.
Como estávamos na Galiza, não deixámos passar a oportunidade de ir dar uma espreitadela as “nostras hermanas” Gralhas-de-bico-vermelho, deste modo rumamos até à praia de Laxe (Província da Corunha), na qual observamos uma Pyrrhocorax, daqui fomos em direcção à lagoa de Traba, onde deparámos com uma serie de gralhas que voavam junto à costa, num vaivém constante.Na tentativa de perceber o que se passava, fomos a pé costa fora até a um local de falésias onde avistámos com um casal e uma cria (com coloração de bico amarelo e patas rosáceas) de Pyrrhocorax pyrrhocorax, que se encontrava junto ao seu local de criação, uma gruta natural, resultado da erosão das águas do mar Atlântico.
Fotos de Paulo Travassos, Paulo Barros, João Gaiola e Hélia Gonçalves


domingo, 31 de maio de 2009

Reprodução do casal “do lameiro”

Após o casal “do lameiro” (assim denominado pelos mais chegados J J) ter arranjado o ninho, a fêmea começou a sua postura que decorreu durante 6 dias (29 de Abril até 4 de Maio), 18 dias após, os pintos começaram a nascer e á data deste poste este casal tem no seu ninho 4 crias com aproximadamente 6-7 dias. Já o casal vizinho mais afastado “cerdedo”, que tinha 4 crias, neste momento tem apenas 3 (visto que uma delas morreu há cerca de uma semana e foi colocada pelos progenitores a uns 10 metros do ninho) com aproximadamente 25-26 dias. Se tivermos em conta que ainda existem casais a incubar (e.g. casal do “corte do caminho”), verificamos que pese embora a população do Barroso seja relativamente pequena, não existe uma sincronização reprodutiva, pelo contrário verificamos uma grande amplitude de reprodução que representa mais ou menos um mês de diferença entre os primeiros nascimento e os últimos.

Sabe-se que a mortalidade de juvenis desta espécie é bastante elevada, por exemplo na Grã-Bretanha 85% dos juvenis morrem no 1º ano e 80% dos restantes morrem no segundo ano de vida (Bullock et al, 1983), ou na Ilha de Bardsey onde 77,6% morrem 1º ano e no 2º ano de vida morrem 46,7% dos que restaram do 1º ano (Bignal et al, 1987). Será que este números se confirma em Portugal?

domingo, 3 de maio de 2009

Com quantos fios de lã se faz um ninho

Mais um mês e mais uma visita pela Serra do Barroso, que este mês incluiu a monitorização do efectivo reprodutor desta espécie, durante a qual foram confirmados alguns casais reprodutores (que se encontravam a incubar).

Depois de se ouvir um breve chamamento no ar (do macho de um dos casais reprodutores), a fêmea deixou o ninho e o abrigo para se juntar ao seu parceiro a cerca de 500 metros do local de nidificação no alto de um afloramento rochoso, imediatamente após uma troca de “mimos” o macho regurgitou para que a fêmea se pudesse alimentar, tendo em conta que a descendência estava á espera e não podiam arrefecer, este ritual foi breve demorando apenas 12 minutos.

Contudo, o objectivo deste “post” não é falar sobre a reprodução ou rituais reprodutivos da Gralha-de-bico-vermelho, mas sim, para relembrar a importância do pastoreio e toda a sua gestão associada (incluindo as queimadas), na conservação do habitat da Gralhas-de-bico-vermelho, e em particular as zonas de alimentação. Esta importância até é reflectida no material de construção dos seus ninhos.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A reprodução da Gralha-de-bico-vermelho

Após a parada nupcial e a cópula que ocorrem no início de Março, a construção ou arranjo do ninho contempla o transporte de materiais que é frequentemente observado desde Março até ao momento em que a fêmea põe os ovos e começa a incubação.
A reprodução destas espécies ocorre normalmente em meados de Abril, contudo a reprodução precoce ou tardia é muito frequente nesta espécie. A incubação dura 17 a 21 dias, e é assegurada exclusivamente pela fêmea.
Após uma breve incursão do macho ao local de nidificação, o casal sai alguns segundos depois para a fêmea ser alimentada pelo macho a poucos metros do local de nidificação e num período de tempo muito curto.
As crias são nidícolas, apresentam-se com penugem e pele rosada ou alaranjada. O crescimento das crias é partilhado pelos progenitores que dura em média quarenta dias, estando aptos a voar em meados de Junho. Os jovens voadores deixam o ninho simultaneamente e após ± 63 dias desde a postura, contudo diferenças de 1 ou 2 dias são frequentes. Nos primeiros dias, após deixarem o ninho, os juvenis são alimentados pelos progenitores junto do local de nidificação. Após este período as jovens gralhas passam a acompanhar os progenitores para junto de outros grupos familiares, formandos bandos de algumas dezenas.
A emancipação dos juvenis ocorre normalmente dois meses depois de realizarem os primeiros voos, contudo na falta de área e disponibilidade alimentar, podem permanecer junto dos progenitores até ao final do Inverno.
A Pyrrhocorax pyrrhocorax atinge a sua maturidade sexual aos 2-3 anos de idade, e durante a sua vida reprodutora apresenta uma taxa de reprodução média de 1,9 a 2,7 juvenis. No entanto, face a uma série de factores (idade, disponibilidade alimentar e anos de ocupação do local de nidificação) uma percentagem elevada de casais reprodutores (cerca de 50%) não produz juvenis.

Fotos tiradas este ano na serra de Aires e Candeeiros e gentilmente cedidas pelo Francisco Barros

domingo, 4 de janeiro de 2009

Gralhas-de-bico-vermelho no PNAlvão: o regresso das filhas pródigas

Ainda há pouco tempo, estava eu e o Paulo Travassos (em representação da equipa do LEA) a falar com o nosso amigo José Conde, sobre o facto de as Gralhas-de-bico-vermelho não serem observadas já há algum tempo em locais onde era normal e frequente a sua presença, e discutíamos sobre a experiência adquirida nos últimos anos na monitorização e acompanhamento desta espécie no Noroeste de Portugal. Durante a reflexão sobre estes factos, referíamos que a sua ausência podia dever-se apenas a uma alteração relacionada com: o clima, o uso do espaço (e. g. habitat, alimento, perturbação) e que poderia estar associado à alteração simultânea da envolvente ao dormitório. Pelo que, o mais certo seria voltar a ver as nossas amigas daqui a uns tempos nos locais antes referenciados se as condições de alimento e abrigo obedecerem aos requisitos ecológicos reconhecidos pela espécie.

Esta conversa, que nos conduziu a algumas suposições, estava ainda longe dos resultados das contagens do final do mês de Dezembro de 2008. Contudo, com os resultados da última monitorização dos núcleos do Barroso e do Alvão, o que seriam apenas suposições passaram a ser factos reais. Após 14 meses de ausência, centenas de Km percorridos e inúmeras horas de espera junto aos dormitórios, algumas delas debaixo de condições adversas, as filhas pródigas do Alvão voltaram.

De acordo com os nossos registos, o núcleo de Gralha-de-bico-vermelho existente na área do Parque Natural do Alvão tem sido monitorizado sistematicamente desde de Janeiro de 2006, com saídas quinzenais até Setembro de 2008 e mensais desde então. A observação de indivíduos desta espécie foi registada desde Janeiro de 2006 até Outubro de 2007, última data de observação de Gralhas-de-bico-vermelho no Alvão. Desde então, e até Dezembro de 2008, as nossas amigas deixaram de frequentar e dormitar no PNAlvão. A sua ausência foi confirmada pelas 22 saídas de campo efectuadas ao Alvão para monitorizar os dormitórios e os locais habituais de alimentação. Durante os 14 meses de ausência de observações é de notar que uma das aves que tinha sido anilhada no Alvão em 2006 foi observada no Gerês numa das saídas de campo efectuada a esta zona (ver post: K 2156: O Contacto!).

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Boas observações para 2009


O ano de 2008 está a finalizar e as contribuições para este projecto foram inúmeras e fizeram-se chegar de Norte a Sul de Portugal, deste modo com a chegada de um novo ano não poderíamos deixar passar este acontecimento sem agradecer a todos aqueles directamente contribuíram no trabalho de campo, com informações e no crescimento deste projecto.
Deste modo o projecto Bico-vermelho expressa aqui o seu agradecimento ao Amadeu Rodrigues, Anabela Paula, António Ferreira, Carla Gomes, Cármen Silva, Diogo Carvalho, Emanuel Ribeiro, Fernando Queirós, Francisco Barros, Hélia Gonçalves, Jacinto Diamantino, Joana Correia, João Cabral, João Gaiola, José Conde, José Paulo, Luís Braz, Maria de Jesus, Marco Fachada, Mário Santos, Pedro Moreira, Pedro Portela, Pedro Rocha, Regina Santos, Rita Bastos, Rui Gonçalves, Samuel da Costa, Sérgio Ribeiro, Vítor Casalinho e Xosé Ramón, esperando que o ano novo que se aproxima seja cheio de boas observações.



Obrigado a Todos

P.S. Tendo em conta que foram tantas as pessoas que contribuíram para este Projecto se por acaso esquecemos de mencionar alguém, pedimos as nossas mais sinceras desculpas.


Pela equipa do Projecto Bico-vermelho