
Fotos de Paulo Travassos, Paulo Barros, João Gaiola e Hélia Gonçalves
Após o casal “do lameiro” (assim denominado pelos mais chegados J J) ter arranjado o ninho, a fêmea começou a sua postura que decorreu durante 6 dias (29 de Abril até 4 de Maio), 18 dias após, os pintos começaram a nascer e á data deste poste este casal tem no seu ninho 4 crias com aproximadamente 6-7 dias. Já o casal vizinho mais afastado “cerdedo”, que tinha 4 crias, neste momento tem apenas 3 (visto que uma delas morreu há cerca de uma semana e foi colocada pelos progenitores a uns 10 metros do ninho) com aproximadamente 25-26 dias. Se tivermos em conta que ainda existem casais a incubar (e.g. casal do “corte do caminho”), verificamos que pese embora a população do Barroso seja relativamente pequena, não existe uma sincronização reprodutiva, pelo contrário verificamos uma grande amplitude de reprodução que representa mais ou menos um mês de diferença entre os primeiros nascimento e os últimos.
Sabe-se que a mortalidade de juvenis desta espécie é bastante elevada, por exemplo na Grã-Bretanha 85% dos juvenis morrem no 1º ano e 80% dos restantes morrem no segundo ano de vida (Bullock et al, 1983), ou na Ilha de Bardsey onde 77,6% morrem 1º ano e no 2º ano de vida morrem 46,7% dos que restaram do 1º ano (Bignal et al, 1987). Será que este números se confirma em Portugal?
Mais um mês e mais uma visita pela Serra do Barroso, que este mês incluiu a monitorização do efectivo reprodutor desta espécie, durante a qual foram confirmados alguns casais reprodutores (que se encontravam a incubar).
Depois de se ouvir um breve chamamento no ar (do macho de um dos casais reprodutores), a fêmea deixou o ninho e o abrigo para se juntar ao seu parceiro a cerca de 500 metros do local de nidificação no alto de um afloramento rochoso, imediatamente após uma troca de “mimos” o macho regurgitou para que a fêmea se pudesse alimentar, tendo em conta que a descendência estava á espera e não podiam arrefecer, este ritual foi breve demorando apenas 12 minutos.
Contudo, o objectivo deste “post” não é falar sobre a reprodução ou rituais reprodutivos da Gralha-de-bico-vermelho, mas sim, para relembrar a importância do pastoreio e toda a sua gestão associada (incluindo as queimadas), na conservação do habitat da Gralhas-de-bico-vermelho, e em particular as zonas de alimentação. Esta importância até é reflectida no material de construção dos seus ninhos.
Ainda há pouco tempo, estava eu e o Paulo Travassos (em representação da equipa do LEA) a falar com o nosso amigo José Conde, sobre o facto de as Gralhas-de-bico-vermelho não serem observadas já há algum tempo em locais onde era normal e frequente a sua presença, e discutíamos sobre a experiência adquirida nos últimos anos na monitorização e acompanhamento desta espécie no Noroeste de Portugal. Durante a reflexão sobre estes factos, referíamos que a sua ausência podia dever-se apenas a uma alteração relacionada com: o clima, o uso do espaço (e. g. habitat, alimento, perturbação) e que poderia estar associado à alteração simultânea da envolvente ao dormitório. Pelo que, o mais certo seria voltar a ver as nossas amigas daqui a uns tempos nos locais antes referenciados se as condições de alimento e abrigo obedecerem aos requisitos ecológicos reconhecidos pela espécie.
Esta conversa, que nos conduziu a algumas suposições, estava ainda longe dos resultados das contagens do final do mês de Dezembro de 2008. Contudo, com os resultados da última monitorização dos núcleos do Barroso e do Alvão, o que seriam apenas suposições passaram a ser factos reais. Após 14 meses de ausência, centenas de Km percorridos e inúmeras horas de espera junto aos dormitórios, algumas delas debaixo de condições adversas, as filhas pródigas do Alvão voltaram.
De acordo com os nossos registos, o núcleo de Gralha-de-bico-vermelho existente na área do Parque Natural do Alvão tem sido monitorizado sistematicamente desde de Janeiro de 2006, com saídas quinzenais até Setembro de 2008 e mensais desde então. A observação de indivíduos desta espécie foi registada desde Janeiro de 2006 até Outubro de 2007, última data de observação de Gralhas-de-bico-vermelho no Alvão. Desde então, e até Dezembro de 2008, as nossas amigas deixaram de frequentar e dormitar no PNAlvão. A sua ausência foi confirmada pelas 22 saídas de campo efectuadas ao Alvão para monitorizar os dormitórios e os locais habituais de alimentação. Durante os 14 meses de ausência de observações é de notar que uma das aves que tinha sido anilhada no Alvão em 2006 foi observada no Gerês numa das saídas de campo efectuada a esta zona (ver post: K 2156: O Contacto!).