A Gralha-de-bico-vermelho é uma ave com uma estrutura social centrada em dormitórios comunitários, normalmente associados a zonas costeiras ou montanhosas; e encontra-se distribuída por uma vasta mas descontínua área desde a Europa, o Médio Oriente, a Ásia Central até ao Noroeste e o Nordeste de África. No entanto, por toda a sua área de distribuição, esta espécie tem vindo a sofrer uma tendência regressiva nos últimos dois séculos, culminando com a sua extinção em algumas regiões.
Os dados relativos à sua ocorrência e distribuição em Portugal, para a primeira metade do século XX encontram-se referidos por autores entre 1924 e 1945 os quais deixam transparecer que esta espécie poderia ser relativamente comum no território nacional. A partir de 1950 surge a indicação da existência de núcleos como Vila Nova de Mil Fontes, Cabo de S. Vicente e Ponta de Sagres, sem contudo serem apontadas estimativas para a população nacional até ao ano de 1978.
Embora por esta altura fosse reconhecida a preferência desta ave por encostas escarpadas em áreas de montanha, por alcantilados de rio ou por falésias na nossa costa, a situação da sua população neste tipo de biótopos era ainda mal conhecida. Com o desenvolvimento dos trabalhos referentes ao Atlas das Aves que Nidificam
Com o início da década de 90 do século passado surgem novos dados a partir de trabalhos regionais que permitem obter estimativas para áreas como Peneda-Gerês, Douro Internacional, Serras do Alvão e Marão, Serras de Aire e Candeeiros, Costa Sudoeste. Para além das áreas reconhecidas como de nidificação potencial para a espécie, surgem também referências de observação de indivíduos em Arrábida/Cabo Espichel, Alcochete (Tejo), Peninha/Sintra; Minas de Neves Corvo e Serra de Montesinho. Simultaneamente é registado o desaparecimento de núcleos na Serra do Marão e Idanha-a-Nova.
Núcleos reprodutores; Ocorrência regular; Observações pontuais
A redução do número de aves desta espécie, desde a década de 70 até à actualidade, tem vindo a reflectir-se nos locais de dormitório comunal assim como na ocorrência do número de casais reprodutores. A regressão generalizada deve-se, segundo a bibliografia, ao abandono e as alterações dos sistemas tradicionais e de pastoreio extensivo. Porém, alguns estudos apontam para mudanças do comportamento e a interrupção da reprodução, evidenciando que para haver sucesso reprodutor é necessário que se encontrem reunidas todas as condições favoráveis, desde a qualidade do habitat, a idade dos casais reprodutores até ao risco de predação e doença. A perturbação humana é também uma hipótese a considerar, atendendo à possibilidade de pilhagem de ninhos, escalada e trilhos de actividades ao ar livre.
De acordo com os requisitos desta espécie, poderá ser necessário: a criação de incentivos para a prática da pastorícia tradicional; o estímulo à implantação de sistemas de pastoreio em regime de estabulação livre e semi-estabulação, em particular do gado bovino; dificultar o acesso humano aos dormitórios de forma a evitar a perturbação, ordenamento das actividades públicas de acordo com os locais de nidificação, dormitórios comunitários; controlar a florestação nas áreas de habitat de alimentação; e integração dos requisitos ecológicos da espécie nos planos de ordenamento.
Para uma favorável conservação da Gralha-de-bico-vermelho em território nacional, de acordo com a bibliografia disponível, é urgente a criação de um Grupo de Trabalho sobre a Gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax) de forma a realizar um censo à escala nacional para estimar a sua população, determinar a tipologia de dormitórios, compreender a flutuação anual do número de indivíduos no seio dos núcleos populacionais e determinação dos factores de ameaça à conservação da espécie.Só através de um esforço concertado se poderá desenvolver uma monitorização de parâmetros populacionais que permitam avaliar a distribuição e abundância desta espécie com vista a inverter a tendência regressiva no nosso país.