Após a degustação de uma bela feijoada de gambas, saboreada no refeitório do mercado de Odemira, ruma-mos para Sul em direcção a Sagres, na companhia do Pedro Portela, com o objectivo de observar Gralhas-de-bico-vermelho. Depois de uma hora de viagem deparámo-nos com um grupo de aves que se alimentavam num pousio, de onde se destacava um grupo de aves pretas cuja silhueta nos parecia familiar. Neste grupo, além de Gralhas-pretas (Corvus corone), de imediato se identificaram Milhafres-pretos (Milvus migrans), Peneireiros (Falco tinnunculus), Falcão-peregrino (Falco peregrinus) e, um grupo de 42-46 indivíduos de Gralha-de-bico-vermelho.
Este cenário, à beira mar plantado, além de belo e com a linha do horizonte a afundar-se no mar, era para nós desigual em tudo o que nos ligava à espécie que há muito tempo vimos seguindo nas terras de montanha do norte. Por momentos, fez-nos recordar a ilha de Islay e a linha de costa que aí dá abrigo a dezenas de aves desta espécie.
Após alguns momentos de reflexão sobre as características comuns e as diferenças entre as duas costas a Norte e a Sul da Europa e as nossas serras do interior norte, decidimos partir desta feita para Oeste, na tentativa de observar as Gralhas-de-bico-vermelho a recolherem num outro abrigo, situado na linha de costa para norte do Cabo de Sagres.
Chegados ao destino, após algum tempo de espera, eis que ao longe observamos um par de Gralhas-de-bico-vermelho a aproximar-se, depois mais duas e outra e mais outra, contabilizando num primeiro momento 6 indivíduos.
Enquanto andávamos de um lado para outro atrás de Corvus monedula, o bando que havia-mos observado durante a tarde tinha chegado ao local do dormitório onde tínhamos planeado a espera. E, numa azáfama, lá regressamos nós ao dormitório onde anteriormente tínhamos estado, deparando-nos apenas com meia dúzia de Gralhas-de-bico-vermelho pousadas na falésia sobre o dormitório. A sua permanência durante longos minutos permitiu a observação atenta de algumas características de imaturidade destas aves que nos podem indicar a existência de indivíduos nascidos este ano, e que só recolheram ao dormitório após alguns chamamentos dos possíveis progenitores.
Por esta altura já escurecia, e o vento forte empurrava-nos para dentro da viatura como que a dizer que eram horas de rumar para outro extremo de Portugal, bem a Norte. No entanto, antes de terminar esta breve visita ao extremo SW, não quisemos abandonar o local sem observar a recolha das últimas aves em jeito de despedida.
Desta feita, após um último olhar sobre a silhueta de uma ave negra de bico curvo sobre o mar, lá deixamos a linha de costa um pouco a contra gosto, e dirigimo-nos para Odemira onde haveria de ficar o nosso anfitrião e guia, Pedro Portela. Neste périplo por terras que constituem o último reduto das Gralhas-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax) no sul de Portugal deixámos a promessa de uma estreita colaboração em prol desta espécie emblemática e a certeza de lá voltar com mais tempo.
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