sexta-feira, 3 de abril de 2009

A reprodução da Gralha-de-bico-vermelho

Após a parada nupcial e a cópula que ocorrem no início de Março, a construção ou arranjo do ninho contempla o transporte de materiais que é frequentemente observado desde Março até ao momento em que a fêmea põe os ovos e começa a incubação.
A reprodução destas espécies ocorre normalmente em meados de Abril, contudo a reprodução precoce ou tardia é muito frequente nesta espécie. A incubação dura 17 a 21 dias, e é assegurada exclusivamente pela fêmea.
Após uma breve incursão do macho ao local de nidificação, o casal sai alguns segundos depois para a fêmea ser alimentada pelo macho a poucos metros do local de nidificação e num período de tempo muito curto.
As crias são nidícolas, apresentam-se com penugem e pele rosada ou alaranjada. O crescimento das crias é partilhado pelos progenitores que dura em média quarenta dias, estando aptos a voar em meados de Junho. Os jovens voadores deixam o ninho simultaneamente e após ± 63 dias desde a postura, contudo diferenças de 1 ou 2 dias são frequentes. Nos primeiros dias, após deixarem o ninho, os juvenis são alimentados pelos progenitores junto do local de nidificação. Após este período as jovens gralhas passam a acompanhar os progenitores para junto de outros grupos familiares, formandos bandos de algumas dezenas.
A emancipação dos juvenis ocorre normalmente dois meses depois de realizarem os primeiros voos, contudo na falta de área e disponibilidade alimentar, podem permanecer junto dos progenitores até ao final do Inverno.
A Pyrrhocorax pyrrhocorax atinge a sua maturidade sexual aos 2-3 anos de idade, e durante a sua vida reprodutora apresenta uma taxa de reprodução média de 1,9 a 2,7 juvenis. No entanto, face a uma série de factores (idade, disponibilidade alimentar e anos de ocupação do local de nidificação) uma percentagem elevada de casais reprodutores (cerca de 50%) não produz juvenis.

Fotos tiradas este ano na serra de Aires e Candeeiros e gentilmente cedidas pelo Francisco Barros

domingo, 4 de janeiro de 2009

Gralhas-de-bico-vermelho no PNAlvão: o regresso das filhas pródigas

Ainda há pouco tempo, estava eu e o Paulo Travassos (em representação da equipa do LEA) a falar com o nosso amigo José Conde, sobre o facto de as Gralhas-de-bico-vermelho não serem observadas já há algum tempo em locais onde era normal e frequente a sua presença, e discutíamos sobre a experiência adquirida nos últimos anos na monitorização e acompanhamento desta espécie no Noroeste de Portugal. Durante a reflexão sobre estes factos, referíamos que a sua ausência podia dever-se apenas a uma alteração relacionada com: o clima, o uso do espaço (e. g. habitat, alimento, perturbação) e que poderia estar associado à alteração simultânea da envolvente ao dormitório. Pelo que, o mais certo seria voltar a ver as nossas amigas daqui a uns tempos nos locais antes referenciados se as condições de alimento e abrigo obedecerem aos requisitos ecológicos reconhecidos pela espécie.

Esta conversa, que nos conduziu a algumas suposições, estava ainda longe dos resultados das contagens do final do mês de Dezembro de 2008. Contudo, com os resultados da última monitorização dos núcleos do Barroso e do Alvão, o que seriam apenas suposições passaram a ser factos reais. Após 14 meses de ausência, centenas de Km percorridos e inúmeras horas de espera junto aos dormitórios, algumas delas debaixo de condições adversas, as filhas pródigas do Alvão voltaram.

De acordo com os nossos registos, o núcleo de Gralha-de-bico-vermelho existente na área do Parque Natural do Alvão tem sido monitorizado sistematicamente desde de Janeiro de 2006, com saídas quinzenais até Setembro de 2008 e mensais desde então. A observação de indivíduos desta espécie foi registada desde Janeiro de 2006 até Outubro de 2007, última data de observação de Gralhas-de-bico-vermelho no Alvão. Desde então, e até Dezembro de 2008, as nossas amigas deixaram de frequentar e dormitar no PNAlvão. A sua ausência foi confirmada pelas 22 saídas de campo efectuadas ao Alvão para monitorizar os dormitórios e os locais habituais de alimentação. Durante os 14 meses de ausência de observações é de notar que uma das aves que tinha sido anilhada no Alvão em 2006 foi observada no Gerês numa das saídas de campo efectuada a esta zona (ver post: K 2156: O Contacto!).

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Boas observações para 2009


O ano de 2008 está a finalizar e as contribuições para este projecto foram inúmeras e fizeram-se chegar de Norte a Sul de Portugal, deste modo com a chegada de um novo ano não poderíamos deixar passar este acontecimento sem agradecer a todos aqueles directamente contribuíram no trabalho de campo, com informações e no crescimento deste projecto.
Deste modo o projecto Bico-vermelho expressa aqui o seu agradecimento ao Amadeu Rodrigues, Anabela Paula, António Ferreira, Carla Gomes, Cármen Silva, Diogo Carvalho, Emanuel Ribeiro, Fernando Queirós, Francisco Barros, Hélia Gonçalves, Jacinto Diamantino, Joana Correia, João Cabral, João Gaiola, José Conde, José Paulo, Luís Braz, Maria de Jesus, Marco Fachada, Mário Santos, Pedro Moreira, Pedro Portela, Pedro Rocha, Regina Santos, Rita Bastos, Rui Gonçalves, Samuel da Costa, Sérgio Ribeiro, Vítor Casalinho e Xosé Ramón, esperando que o ano novo que se aproxima seja cheio de boas observações.



Obrigado a Todos

P.S. Tendo em conta que foram tantas as pessoas que contribuíram para este Projecto se por acaso esquecemos de mencionar alguém, pedimos as nossas mais sinceras desculpas.


Pela equipa do Projecto Bico-vermelho

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Laboratório de Ecologia Aplicada (UTAD) e o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina monitorizam e contam 99 Gralhas-de-bico-vermelho

No mês de Outubro as contagens realizadas em simultâneo no noroeste (áreas do PN Alvão e Serra do Barroso) e sudoeste (PNSACV) de Portugal, revelaram a existência de um total de 99 Gralhas-de-bico-vermelho.

Estas contagens decorreram como resultado da reunião entre a equipa do Projecto Bico-vermelho e o PNSACV onde se discutiu os moldes da parceria, as metodologias a utilizar e se definiu a periodicidade mensal para a realização dos censos de Gralha-de-bico-vermelho nas Serras do Alvão, Barroso e no Sudoeste Algarvio e Costa Vicentina.

Deste modo, as contagens no Alvão e Barroso realizadas no mês de Outubro revelaram um total de 22 Pyrrhocorax pyrrhocorax, distribuídas por um total de cinco abrigos, que na sua maioria são ocupados por apenas um casal. No entanto, as aves que compõem este núcleo encontram-se durante algum tempo junto do dormitório principal para se alimentarem e socializarem, antes de se distribuírem pelos diferentes locais de dormida já perto da hora do pôr-do-sol.

As contagens realizadas pela equipa do PNSACV e em especial pelos nossos amigos Pedro Portela e Viictor Casalinho para mesmo mês, tal como havia sido acordado, revelaram num primeiro instante, a chegada de apenas 2 aves da espécie P. pyrrhocorax, no dormitório a Oeste de Sagres no entanto após a sua recolha logo se lhes seguiram, vindas de Norte, mais 42 aves. Além destas, num dormitório mais a Leste de sagres as contagens confirmaram a utilização de um segundo dormitório por mais 33 aves da mesma espécie.

O número de Gralhas-de-bico-vermelho registado, após a época de nidificação, tem vindo a aumentar gradualmente nos locais de contagem. Os resultados, até agora compilados, encontram-se dentro do esperado, e estão de acordo com as observações realizadas em anos anteriores, isto é: regista-se uma diminuição do número de aves (dispersão) na época de nidificação e a concentração gradual de aves a partir do período estival atingindo o número máximo de aves no pico do Inverno. Deste modo, teremos de aguardar até Dezembro/Janeiro, para obter um número máximo de Gralhas-de-bico-vermelho nestas áreas e confirmar se houve acréscimo populacional nas áreas monitorizadas.


No âmbito do Projecto Bico-vermelho, a equipa está a desenvolver esforços para que a monitorização e contagem de Pyrrhocorax pyrrhocorax seja estendida a todas as áreas de Portugal Continental onde a espécie ocorre, de forma a que num futuro próximo a monitorização nacional da Gralha-de-bico-vermelho seja uma realidade.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Notícia do Projecto bico-vermelho no PortalAmbiente

Hoje dia 5 de Novembro foi publicada uma notícia sobre o Projecto Bico-vermelho intitulada "Criação de grupo de trabalho nacional sobre a Gralha-de-bico-vermelho em estudo" no PortalAmbiente Online.

Para lerem a notícia basta visitarem o seguinte link:

http://www.ambienteonline.pt/noticias/detalhes.php?id=7220

terça-feira, 30 de setembro de 2008

K 2156: O Contacto!

Após ser anilhada em 15 de Março de 2006, e a mais de 2 anos da sua marcação, a Gralha-de-bico-vermelho com a anilha metálica K 2156, foi finalmente observada a mais de 60 km do seu local de captura e a escassas centenas de metros de Espanha. A sua identificação à distância foi possível após a observação da anilha de cor verde na pata esquerda.


Esta ave, à data da sua marcação terá ainda transportado um rádio-transmissor tipo “mochila” que permitiu o seu seguimento dentro dos limites do PNAlvão durante 6 meses. Após este período deixou de ser observada, embora se julgue que tenha mantido ainda por algum tempo o transmissor; esta observação permitiu ainda confirmar a ausência da “mochila” que de certo modo a equipa de rádio-seguimento já esperava. Esta observação reveste-se ainda de elevada importância para o estudo comportamental e social da espécie, uma vez que não se encontram referências sobre eventuais deslocações de Gralhas-de-bico-vermelho para Portugal a partir dos núcleos conhecidos.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

As Gralhas-de-bico-vermelho no PNSACV

Após algumas trocas de e-mails com o Pedro Portela (Vigilante do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina- PNSACV), tendo como tema de conversa as Gralhas-de-bico-vermelho, e na perspectiva de uma parceria entre este grupo de trabalho e o PNSACV, foi agendada uma reunião para discutir algumas metodologias. Esta reunião foi realizada em Odemira, no dia 27 de Agosto, onde estiveram presentes o Paulo Travassos, Carla Pereira, Paulo Barros (Projecto Bico-vermelho), Pedro Portela (Vigilante PNSACV) e Pedro Rocha (Director Adjunto da DGAC-Sul), que nos ocupou a manhã toda.

Após a degustação de uma bela feijoada de gambas, saboreada no refeitório do mercado de Odemira, ruma-mos para Sul em direcção a Sagres, na companhia do Pedro Portela, com o objectivo de observar Gralhas-de-bico-vermelho. Depois de uma hora de viagem deparámo-nos com um grupo de aves que se alimentavam num pousio, de onde se destacava um grupo de aves pretas cuja silhueta nos parecia familiar. Neste grupo, além de Gralhas-pretas (Corvus corone), de imediato se identificaram Milhafres-pretos (Milvus migrans), Peneireiros (Falco tinnunculus), Falcão-peregrino (Falco peregrinus) e, um grupo de 42-46 indivíduos de Gralha-de-bico-vermelho.
Este primeiro contacto foi para nós uma novidade em termos de comportamento alimentar. Embora já tivéssemos tido a oportunidade de ler o testemunho do João Carlos Farinha sobre tal facto, nunca tivemos a oportunidade de observar Gralhas-de-bico-vermelho pousadas no topo dos cardos (Cynara sp), a alimentarem-se a partir da influrescência. Após alguma surpresa em relação a este comportamento, questionámo-nos se estas aves se alimentariam das sementes dos cardos. Não deixamos de procurar o que haveria sob a influrescência dos cardos, e cedo constata-mos que sob estas, para além das sementes dos cardos, existia um manancial de larvas, que possivelmente seria as presas que as aves procuravam. Este facto vai com toda a certeza conduzir-nos a um novo desafio no âmbito do estudo da dieta alimentar desta espécie.
Após breve paragem entre Vila do Bispo e Sagres, seguimos caminho em direcção do mar sempre para sul pisando a pouca terra que nos separava do mar. Parando aqui e ali, sempre que um monte abandonado se nos deparava, na perspectiva de encontrar algum dormitório ou local de nidificação preferencialmente localizados em estruturas, como casas abandonadas ou resguardos para os animais (comportamento normal nesta espécie em outros países), mas que no final apenas confirmou os nossos receios: a Gralha-de-bico-vermelho não tem preferência por construções humanas (pelo menos actualmente).Chegados à linha de falésias da zona de Sagres, o Pedro Portela conduziu-nos a um dormitório comunal e possível local de nidificação.


Este cenário, à beira mar plantado, além de belo e com a linha do horizonte a afundar-se no mar, era para nós desigual em tudo o que nos ligava à espécie que há muito tempo vimos seguindo nas terras de montanha do norte. Por momentos, fez-nos recordar a ilha de Islay e a linha de costa que aí dá abrigo a dezenas de aves desta espécie.

Após alguns momentos de reflexão sobre as características comuns e as diferenças entre as duas costas a Norte e a Sul da Europa e as nossas serras do interior norte, decidimos partir desta feita para Oeste, na tentativa de observar as Gralhas-de-bico-vermelho a recolherem num outro abrigo, situado na linha de costa para norte do Cabo de Sagres.
Chegados ao destino, após algum tempo de espera, eis que ao longe observamos um par de Gralhas-de-bico-vermelho a aproximar-se, depois mais duas e outra e mais outra, contabilizando num primeiro momento 6 indivíduos.

Enquanto esperávamos pela chegada de mais exemplares de Gralhas-de-bico-vermelho eis que se observa muito ao longe, ao largo da costa um bando do que fazia supôr ser algumas dezenas de gralhas, que acabaram por se perder na linha de costa. Na tentativa de descobrir um novo dormitório, sem mais demoras dirigimo-nos para o local. Chegados aí fomos surpreendidos por um bando de Gralhas-de-nuca-cinzenta; afinal o que o nosso entusiasmo nos tinha levado a pensar ser um dormitório de Pyrrhocorax pyrrhocorax era afinal um dormitório de Corvus monedula. No entanto, não deixamos de observar atentamente os exemplares desta espécie que é escassa no interior norte do país e, que utilizam a costa Sudoeste como local de ocorrência, sendo uma zona de eleição para a observação deste corvídeo.

Enquanto andávamos de um lado para outro atrás de Corvus monedula, o bando que havia-mos observado durante a tarde tinha chegado ao local do dormitório onde tínhamos planeado a espera. E, numa azáfama, lá regressamos nós ao dormitório onde anteriormente tínhamos estado, deparando-nos apenas com meia dúzia de Gralhas-de-bico-vermelho pousadas na falésia sobre o dormitório. A sua permanência durante longos minutos permitiu a observação atenta de algumas características de imaturidade destas aves que nos podem indicar a existência de indivíduos nascidos este ano, e que só recolheram ao dormitório após alguns chamamentos dos possíveis progenitores.

Por esta altura já escurecia, e o vento forte empurrava-nos para dentro da viatura como que a dizer que eram horas de rumar para outro extremo de Portugal, bem a Norte. No entanto, antes de terminar esta breve visita ao extremo SW, não quisemos abandonar o local sem observar a recolha das últimas aves em jeito de despedida.
Desta feita, após um último olhar sobre a silhueta de uma ave negra de bico curvo sobre o mar, lá deixamos a linha de costa um pouco a contra gosto, e dirigimo-nos para Odemira onde haveria de ficar o nosso anfitrião e guia, Pedro Portela. Neste périplo por terras que constituem o último reduto das Gralhas-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax) no sul de Portugal deixámos a promessa de uma estreita colaboração em prol desta espécie emblemática e a certeza de lá voltar com mais tempo.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Vídeo-monitorização no núcleo de Gralha-de-bico-vermelho da Serra do Barroso

A importância de um sistema de monitorização reside, principalmente, no fornecimento contínuo de informações e dados suficientes em tempo real. É neste contexto que o uso de instrumentos visuais remotos, através da aquisição de imagens com câmaras de vídeo, tem-se tornado numa técnica viável e promissora.
Com este sistema de vídeo-monitorização pretende-se avaliar o comportamento no interior de um dormitório de Gralha-de-bico-vermelho. O sistema em questão é um sistema de captura e transmissão de imagem e é constituído pelos seguintes elementos: uma câmara de infravermelhos, um computador e a alimentação (bateria). Este sistema de monitorização tem por base a seguinte metodologia: a área do dormitório a captar é filmada por uma câmara de infravermelhos (que tem a particularidade de ser invisível para as aves), que se encontra ligada a uma placa de captura de vídeo, localizada num PC. Através das imagens que nos chegam pelo monitor do interior do dormitório é-nos possível visualizar o número de indivíduos, a hora da entrada e a utilização dos poisos pelos indivíduos.
Com este sistema é também possível a transmissão das imagens capturadas, bastando o computador possuir o software especializado para a transmissão das imagens capturadas via IP e ligação a um modem GPRS, possibilitando assim a visualização das mesmas em qualquer ponto de acesso à Internet e permitindo o seu armazenamento para processamento futuro. Ou seja, a oportunidade de vídeo-monitorização remotamente sem a deslocação ao local.

O vídeo que se segue foi obtido a 30 de Janeiro de 2008, quando o grupo era constituído por 41 indivíduos (bando de Inverno).


Durante a campanha de saídas de campo à serra do Barroso foram realizadas filmagens no dormitório comunal. Com este sistema foi-nos possível determinar a hora da 1ª ave a entrar no dormitório, como observar o comportamento dos indivíduos no interior do abrigo.

No quadro abaixo indicado, é possível observar as datas que foram realizadas filmagens, bem como o tempo de filmagem e o número de indivíduos que ocuparam nesse dia o dormitório.




O vídeo seguinte é um exemplo de uma filmagem ao anoitecer.



Caso tenha dificuldade em visualizar os vídeos faça o download dos codecs em:
http://www.free-codecs.com/geovision_cctv_mpeg4_codec_download.htm
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